Nota à imprensa #2
Inconformadas com o fim dos protestos populares na capital gaúcha, querência amada, diversas árvores resolveram tomar
para si a dianteira das manifestações abandonadas pelos residentes daquela bonita localidade. Incorporando gestos tresloucados e extremados como o suicídio arbóreo e assim evitando a intervenção prévia dos técnicos ambientais do município (onde está esse pessoal afinal?) ou a decapitação programada pelos mandatários aldeães, famosos por chacinar vegetais enfileirados e impertinentes, as árvores decidiram programar uma série de incursões visando alarmar os transeuntes locais. Preocupações preocupantes de imediato são levantadas nas reuniões e amontoados de gente por aí. Publicitários e cinegrafistas comentam se, até o Natal, restará uma sequer em pé para edulcorar as tradicionais e aguardadas propagandas de supermercado. Jornalistas locais tentam averiguar nas redes sociais (vai querer que eles se misturem ao populacho?) se há um correspondente Bloco de Lutas organizando as manifestações e tentam identificar se há algum tipo de orientação anarquista no autodeclínio das plantas. Estadistas e polícia já teriam expedido mandados de busca e apreensão na expectativa de descobrir a espécie de literatura que anda inspirando as baderneiras criaturas (sim, árvores são seres vivos) e aquela parte da demografia que preza muito exercitar as panturrilhas, mas desde que no exterior,
finalmente parece ter-se importado em saber onde é que estão as tais árvores. Vê-se que a comoção é geral. Rumores espalhados pela rádio-sabiá-da-madrugada têm informado que os vegetais planejam intensificar as manifestações com vandalismo. Estaria claro para elas que só o suicídio não tem sido o suficiente. O efeito mesmo só é notado ao cair na cabeça de alguém, pessoa física, já que com esse patrimônio público ninguém mais parece preocupado.