
Hospitais improvisados sob lonas, pessoas sem diagnóstico e um número crescente de casos fatais expõe o que parece ser apenas um novo episódio de uma situação que vem se repetindo ano a ano, agravando-se paulatinamente, sem que medidas eficazes do ponto de vista administrativo sejam adotadas. A razão para isso acontecer é que aparentemente não há medidas que possam ser tomadas e, nestes tempos em que criou-se a impressão de que um clique “faz” coisas, investir maciçamente em condições preventivas é algo está fora do cenário político, este bem mais determinado e empenhado nas medidas de ajuste fiscal e nos desdobramentos de sua problemática.
Se o combate à epidemia nos moldes militares propostos por Oswaldo Cruz no início do século passado hoje não faz mais sentido, é preciso encontrar soluções duradouras. E sem que isso passe por uma mudança de mentalidade política no sentido de priorizar-se condições sanitárias razoáveis e serviços públicos de saúde em condições de operar com dignidade, é uma novela com próximos e previsíveis capítulos.
Está claro à população que já não basta ver interesse no assunto sanitário nos períodos eleitorais, o que praticamente não se viu em 2014, mas evidências de uma inclinação política que parece resolver-se perpetuamente no território de promessas que nunca se cumprem ou que padecem pelos muitos descaminhos que se impõem à administração pública de um modo geral.
Porque os determinantes da propagação da dengue continuam sendo péssimas condições de habitação, saneamento, atendimento e educação, como explica o médico José Augusto de Britto, coordenador da Rede Dengue Fiocruz, trata-se de uma doença socioambiental que está aí para demonstrar que o destrato social para com o ambiente não se dá só em relação aos recursos naturais, mas ao próprio ambiente urbano, em um ciclo indesejavelmente doentio.
Enquanto isso, com o agravamento da expansão concomitante da febre chikunguya, transmitida pelo mesmo vetor, resta à população fazer sua parte, além de torcer para encontrar serviços de saúde em condições de prestar atendimento, nem que sob lonas improvisadas. São os custos do desinvestimento e da imprevidência política.