Forasteiro

Já deste tudo
e resta o sangue
ventilando as memórias
que se apagam.

Deste tudo
e não resta nada
em minhas mãos
que eu te alcance.

Eu era teu
e, igual a uma sombra,
repetia teu carinho,
me escondia nele.

Em meus olhos,
nunca duraram as lágrimas.
Tu estavas sempre
ao nosso tempo.

Quantos invernos
me constituíram teus sonhos?
Mas, por tua causa, nunca o frio
me atingiu.

Numa árvore qualquer
da rua, esses dias escorei
o corpo para ouvir o que
ela me poderia dizer.

Sou árvore só, não sobrevivo
nem na memória.
Deixo aqui mesmo
a minha sina.

Mas tu, não… Por ti plantei
o nome bem no meio
da garganta para
me atravessares a voz.

Que eu não te possa
tapar os pés… Que eu não
atenda o teu chamado
feito à distância…

O tempo, cruel
mensageiro da solidão,
nunca há de apagar
teu nome em mim.

O teu, que é o primeiro
e último nome, ficará comigo
e evitará que alguma vez
me torne um forasteiro.

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