Quantos estão morrendo
agora, pensa melhor,
quantos morreram antes
no coração que os carregava
indolentemente?
Quantos estão ferindo
ou já feriram, por
espetar na memória
bocados de esperanças
que nem eram suas?
Quantos estão sorrindo
ao encontrar o seu nome
a salvo, ou num escudo
partido, a ilusão
de não estar ali também?
Quantos de nós, ou nós mesmos,
estão morrendo muito antes
do que deveriam
por não aprenderem nunca
a viver do modo que é certo?
Quantos no incógnito
instante e um documento
embebido em fogo
anunciando ao passado,
talvez, quem eles foram?
Do ser apaga-se a essência
com a mesma solenidade
que a nuvem se dissolve
em águas. Como o estrondo
do trovão passando.
Esse rumor de que a manhã
já é tarde é mesmo prenúncio
de outro futuro? Ou é mais
do que pensamos, mas não fazemos,
falso alarde?