Circular Urca

Ela tinha um cabelão
e contei uma história
que não lembrava mais
de um pássaro que se acomodou
em meio aos seus miolos moles
uma vez.

De um tempo cheio de horas vagas,
de quando não havia no que gastar
dinheiro que tb não existia

(na verdade, iguais às sombras
encostadas sob a marquise
à espero do ônibus, na volta:
circular Urca).

Ela tinha uns olhos verdes
onde eu nunca mergulhei –
nunca teria mergulhado –
com minha sombra
eu protegia do solaço
a pele branca, por inteiro,
que mormaço

(outra vez quase afundei
não pq eu soubesse nadar,
mas pq ela estava lá)…

E tinha um entusiasmo
que era gigante,
cantava comigo qualquer coisa,
sem melodia, sem letra,
nada que é bom
a gente na hora
pensa que presta

(nessas horas
há um silêncio sempre
que vai se acordando
ao mesmo tempo
abafando tudo –
hoje um estrondo).

2

Se eu passar ao seu lado
outra vez
não soe alarmes

(deixa quieto,
fica na tua –
mas não se afaste…).

Enquanto há tempo
a manhã perdura –
enquanto há tarde,
noite que baste.

Com ela o atraso
era um breve torpor,
depois acordava, e passou
sempre cedo demais.

Foi menos grave ao seu lado
e mais eu sonho por isso
dos sinos que batem
sem muito alarde.

Não tão mais perto
nem tão mais longe,
é que apenas nos seus olhos
eu fiquei sempre acordado.

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