A porta

Depois de Simone Weil

Leva uma vida atravessar a porta,
nunca menos que isso.
Às vezes, leva até mais.

Atravessá-la sem a promessa dos pomares,
topando os frutos derrubados sem propósito
por ela mesma.

Atravessá-la sob o perfume espúrio
de pernis assados ao longe
e gritos de crianças felizes.

De antemão, a porta está sempre parada
ou move-se a todo instante
para que seja inútil buscá-la.

Atravessando-a ou não, o único destino
é derrubar-se às paredes
para que ela continue secreta e intacta,

frestando dimensões frustradas
e platôs intransponíveis
de um único labirinto.

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