Se o sol já era alto,
se a lua fatigara-se
e as nuvens se esboroaram,
a que horas nasceste?
Se o que havia escondeu-se,
se o que se escondera voltou
e no vale o olhar dos carneiros
e o olhar dos peixes no aquário,
e o das pessoas, na vida,
não te percebeu?
Se o tempo já havia passado
e era preciso criar ainda mais dele,
extrai-lo de misérias e paisagens,
erguê-lo pelas costelas
no ponto de velhas fraturas?
A que horas nasceste?
Perguntarei a sua mãe
e sua atenção totalitária.
A que horas nasceste?
Perguntarei aos retratos
que me escondeste.
A que horas, afinal, nasceste,
se o sol já era alto
e a lua fatigara-se
como pêndulo esdrúxulo
de um relógio calcificado?
Ou aponta-me para onde devo olhar,
afora o verde mastigado (a utopia)
e uma escuridão desconhecida.
Ou aponta-te para mim mesmo
e diz tu, nem que com a minha voz,
a que horas foi isso?
Precisamente, pois não?
Nem um minuto a menos
dos tomados a mim.
O sol já era alto.
A lua fatigara-se.
Eu sei (sabemos).
Como tu demoras..