Ela mora no outro lado da cidade.
Nas ranhuras de um espelho arranhado.
E toca com os dedos na luz
em pingos de chuva trançados.
Ela mora na pintura de um vaso
e é a única que o conhece de dentro.
Ela é quem eu posso ver
quando o sol se abandona no céu.
O seu olhar não está à venda,
disso ela sabe perfeitamente bem.
E sob farrapos de algodão partido
irá aguardar pela chuva
como se fosse cumprimentar a noite
e permanecer até o final
e dissesse tudo o que é preciso ouvir
uma última vez.
Mas ela pode apenas estar me enganando.
Do outro lado da cidade,
os filmes acabam antes do fim
e não são refeitos pela memória.
Mas eu espero que dessa vez ela esqueça
porque eu me sinto quebrado
como fica um pedaço de gelo
que é mascado na boca de um urso.