World, world, I cannot get the close enough!
Edna St. VINCENT Millay
Nem na bruma desfeita,
nada no sentimento do sol
acusa a morte da lua.
No instante em que
a aurora súbita
esquece da noite,
o mar joga longe
os avisos dos rios
de quando, como,
e se irão desaguar.
Alto demais,
o monte não inquieta
o vale. E deita-lhe
o olhar revolvido.
Nuvens se lamentam
às costas de Deus,
inertes na lagoa.
Nem um animal
ainda contamina
a paisagem.
Só pedra sobre pedra,
o vento enlouquecido
não entende aonde ir
e muito menos o que fazer.
O primeiro dia
é subterrâneo
e amorfo, num tempo
que não se aquilata.
Um sol apenas no céu
a tudo aniquila e arrebata.
Gema periclitante entre os astros
sem lágrima nem riso.
Há espaços vagos ainda,
mas nada se decide
nesse império de dúvida
e vacilação universais.
De outro modo, tudo
acontece por si mesmo.
Tudo locupleta-se em vão.
Para ter criado este mundo,
Deus estava desocupado,
necessariamente.
Sem intenção ou projeto,
sem cálculo ou culpa,
desejo ou luto,
assistência ou atenção,
desde o primeiro minuto –
sem entender de que forma –
tudo já havia abandonado.
Nascemos nesse esquecimento.