Daltônico, 2

Sei me apressar,
no entanto me prendo
às cores das coisas.

Alguém com muito poder
fundiu-me a elas
confundindo-me para sempre.

Mas eu prefiro
que tudo se demore
antes do próximo passo.

Ante a ele,
me pesa inútil
essa mania de antiguidades,

as coleções de vacilos,
as portas aos descampados,
os descontroles do vento.

Se me encontras
ainda vacilando
é que estou preso

por algo que me ocupa
sem eu saber
e sem que me saibam.

Espécie de personagem
de um autor que ainda
não chegou à primeira linha.

O que eu preferiria
era me antecipar a minha voz
porque esqueço fácil.

Perco-me em lugares conhecidos
e penso que qualquer um seja eu mesmo.
Ao centro do labirinto,

aguardo incrédulo a minha chegada.
Em cada árvore da floresta me vejo,
pois não tenho espelhos nem vidros.

E não chove há muito tempo
para que a água se acumule
esquecida.

O que eu vejo
é uma natureza que nem é selvagem
poreque ninguém ainda a conhece de fora.

Aqui dentro, meus olhos
padecem dos efeitos obscuros
do sol e da lua nova.

Eu ainda não entendo nada.

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