O cão

Da vida do cão que passa
não há muito para saber.

Há quanto ele não come? Não sei.
Onde dormiu pela última vez? Não sei.

E a quem eu perguntaria isso,
o não sabido por ninguém?

Não sei. Não sei. Não sei.

A luz desmaia. No cão, é âmbar.
O uivo derreteu ainda alvorada.

E agora está tudo lido.
E visto. E esquecido.

Mas o que não houve nunca,
com quem tirarei a limpo?

Não sei. Não sei. Não sei.

O cão passou hoje mais cedo.
Ainda não havia nada. Ninguém.

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