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Cancelando Darwin

Revista Parêntese, ed. 128

No mundo das ideias publicadas, não há o que não seja questionado. É sair da gráfica e mesmo os autores mais geniais já estão recebendo contestações. Certo que recebem loas, mas o seu oposto também: não tardam a fúria depreciativa e até mesmo ridicularizações. À medida que o tempo passa, no entanto, poucos continuam no alvo das especulações, e isso costuma acontecer tanto maior o impacto das ideias expostas. É como um atestado de vitalidade, e nem poderia ser diferente no caso de ideias que, conforme a conhecida menção de Sigmund Freud nas suas Conferências Introdutórias sobre Psicanálise, “feriram” o ego narcísico da humanidade. Além de si próprio, catalogado imodestamente como um dos autores destes ferimentos, Freud incluiu também Nicolau Copérnico e o naturalista inglês Charles Darwin. O primeiro, por remapear o lugar do planeta no universo; o segundo, por dessacralizar a origem da espécie humana e propor uma revolução antropológica sem precedentes que continua sendo debatida e influenciando o mundo.

Passados 150 anos da publicação de A descendência do homem, obra de Darwin menos difundida e discutida em vista do estrondo de A origem das espécies, a Princeton University Press publicou no último ano um conjunto de ensaios acerca das ideias antropológicas que Darwin desenvolveu após o entusiasmo gerado pela divulgação de A origem e observações controversas que ele reuniu nos dois tomos de A descendência, obra publicada em 1871.

Contando com a participação da neurocientista brasileira Suzana Herculano-Houzel, o livro desacomoda muito a imagem de Darwin de um lugar aparentemente inamovível. Pelas mãos da historiadora da ciência e professora em Harvard Janet Browne e do antropólogo da Dartmouth College Jeremy DeSilva, Darwin é questionado com severidade no que diz respeito a ideias controversas quanto às diferenças de gênero, as suas ideias de “raça”, aptidões, inteligência e progresso cultural que ele publicou nesta sua obra menos conhecida.

É certo que os doze cientistas envolvidos em A most interesting problem não procuraram invalidar ou suspender as contribuições de Darwin a respeito da evolução humana com a publicação, tampouco do seu trabalho com a seleção natural. Para eles, os problemas encontrados em A descendência quase sempre aconteceram devido a crenças e equívocos vigentes no próprio estado de arte científico da época na qual ele viveu e o livro foi redigido. Questionar, todavia, não é o mesmo que cancelar, e seria ao menos complicada a ideia de repetir com alguém do contributo de Darwin o comportamento cultural que hoje governa o trânsito de ideias no mundo. Nesse aspecto, o livro de Browne e Jeremy é exemplar da forma como é possível criticar as ideias de alguém sem que se incorra num respectivo linchamento público. Ainda inédito no Brasil, a abordagem serena e nada truculenta apresentada no livro poderia parecer aqui um espécime exótico de crítica cultural e científica, mas também por isso seria bem vindo. Além disso, o livro traz questionamentos inusuais em linguagem acessível e esclarece diversas dúvidas a respeito de parte importante e pouco discutida do legado de Darwin.

Outros livros

Em torno do bicentenário de nascimento de Darwin, em 2009, diversos trabalhos biográficos foram traduzidos e publicados no Brasil. A mesma Janet Browne foi publicada pela UNESP com a biografia científica Charles Darwin: o poder do lugar, e a dupla Adrian Desmond e James Moore apareceu duas vezes, a primeira com Darwin: a vida de um evolucionista atormentado (Geração Editorial) e a outra com A causa sagrada de Darwin: raça, escravidão e a busca pelas origens da humanidade (Record). Este último, especialmente, tem quase o caráter de um panegírico ao naturalista, enfatizando o seu caráter humanista e inclinações abolicionistas. Embasado na mesma pesquisa que resultou no seu trabalho biográfico anterior, o livro também pode ser lido como um empreendimento de restauração de A descendência como um inverificável libelo antiescravagista.

De acordo com Janet Browne, por outro lado, esta é uma possibilidade interpretativa um tanto forçada. Para ela, Darwin traz todas as contradições de uma época de transição paradigmática que, se consolidou com sua obra o conhecimento da natureza e da biologia, ofereceu uma margem para que sua teoria fosse replicada no campo social e psicológico. O organizador do livro, o antropólogo Jeremy DeSilva, lamenta que o seu trabalho inestimável também tenha derivado mais tarde para uma ciência duvidosa, representada principalmente nas técnicas eugenistas e, tardiamente, nas ideologias supremacistas que inspiraram práticas perversas do nazismo. 

Mesmo assim, em nenhum momento eles caracterizam o pensamento de Darwin como inspirador direito dessas ideias ou da deturpação do darwinismo social. Muito mais ela aponta para Darwin como um cientista premiado pela comunidade científica da época a responder o que ele mesmo não havia desenvolvido a pleno.

Para os pesquisadores, é muito compreensível que o mesmo Darwin, que disse ao sair do Brasil esperar “nunca mais visitar um país de escravos”, propusesse uma escala evolutiva entre a selvageria e a genialidade considerando atributos meramente biológicos, chegando inclusive a conclusões difíceis, como a reversão evolutiva entre os seres humanos.

Darwin e o darwinismo

Observador sagaz e conhecedor tanto das características da vida minúscula quanto dos processos que levaram grandes mamíferos à extinção, é praxe pensar-se que, por mal conhecida, sua teoria da seleção natural resultou involuntariamente ao longo do tempo em enormes simplificações e deturpações. Deste modo, que se atribua a ele o desenvolvimento de ideias como “a sobrevivência do mais forte” é confusão comum, pois se trata, na verdade, de uma proposição de autoria de Herbert Spencer. Embora houvesse uma influência mútua entre ambos e outros integrantes da comunidade científica inglesa, Darwin costumava ser muito cauteloso ao reproduzir no mudo humano suas impressões a respeito da reprodução das cracas e dos pombos. 

Em A descendência, contudo, ele efetivamente ultrapassou um tanto a linha divisória da prudência ao expor mais abertamente sua compreensão das questões de gênero, raça e sociedade, evidenciando que o seu viés cultural não era algo revolucionário, mas muito atinente ao mundo contido da Inglaterra vitoriana, que na mesma época se expandia colonialmente mundo afora. Certo que ele não pensava, no entanto, em colocar suas ideias a serviço de um propósito que não fosse edificante. Veja-se a seguir, por exemplo, um trecho de suas opiniões em relação ao aspecto moral do convívio social:

“A ajuda que somos impelidos a dar aos necessitados é principalmente um resultado incidental dos instintos de simpatia, que foi originado como parte dos instintos sociais, mas que foi subsequentemente aprimorado, como visto antes, a ser mais amigável e mais amplo. Jamais poderíamos abandonar a simpatia, mesmo aos maiores apelos da razão, sem deteriorar a parte mais nobre da nossa natureza. Um cirurgião pode hesitar enquanto perfaz uma operação, porque ele sabe que está agindo para o bem do seu paciente; mas se intencionalmente negligenciamos os fracos e necessitados, seria apenas por um beneficio contingente, junto com um enorme mal em troca.” (Darwin, Charles. The descent of man, and selection in relation to sex. Londres, 1871.)

Por não ter se ocupado incialmente das mazelas humanas com o mesmo “método” com que investigava o mundo natural, replicando para estes sua mecânica sutil, parecia-lhe muito claro que, sob o primado da razão, seria tolice esperar que seres humanos obedecessem a tendências inevitáveis como ocorre na maioria das leis biológicas. Isso feriria a noção de livre-arbítrio que lhe era muito cara. Cerca de uma década após a divulgação de A Origem, movido por essa tentativa, quando buscou enquadrar os seres humanos e sua complexa evolução em seus parâmetros evolutivos, acabou ele mesmo incorrendo neste erro e resultando num livro quase lhe custou a credibilidade anteriormente conquistada. 

Embora A descendência tenha especulações pertinentes, revisto o seu resultado final, hoje não parece melhor que uma protoantropologia. Atenua que o livro possa ter resultado de uma pressão social e cultural que havia se criado em torno do naturalista a respeito de suas opiniões acerca do homem moral de então e de como se chegara até ele. Já o mesmo não se pode dizer de A expressão das emoções no homem e nos animais, de 1872, fruto mais de seu incansável trabalho de observador do que de especulações sociais e psicológicas. 

É dessa época e em razão do expresso em A descendência e suas observações a respeito do homem e dos antropoides que começaram a aparecer nos jornais da época charges que procuravam ridicularizá-lo, como a exibida aqui, publicada na revista Hornet, em 1871. Verdade que a ridicularização devia-se mais às retaliações promovidas pelos criacionistas de então à popularização de sua obra do que a uma antipatia específica a ele mesmo, que vivia por essa época afastado da vida urbana de Londres.

Ocorre que Darwin favoreceu imensamente a que surgisse e prosperasse em todo o mundo uma série de ideias que contrastavam as ideias religiosas predominantes, por um lado, e uma pressa em forjar-se uma nova teoria social, por outro.

Darwin, um vitoriano

Logo após a divulgação estrondosa de A origem, muitos cientistas e pensadores passaram a procurar Darwin para cotejar suas ideias, inclusive Karl Marx, que viveu em Londres naqueles dias e teria lhe enviado exemplares de seus livros e quase o teria visitado. Darwin, porém, parece não ter lhe dado muita atenção, pois o trabalho com os espécimes e preocupações com a sua saúde e a dos filhos o absorvia quase completamente. Com dezenas de outros cientistas relacionava-se num fervor missivista impressionante, inclusive com seu primo irmão Francis Galton, o “pai” da eugenia (técnica muitas vezes também erroneamente atribuída a ele). Quando foi editada pela Cambridge University Press, sua correspondência foi reunida em nada menos que 30 volumes.

Só bem mais tarde é que acabou popularizando-se o caráter menos científico e mais ideológico de sua obra, especialmente após a sua morte. Foi quando o darwinismo, isto é, a adaptação de suas ideias para explicar quaisquer fenômenos sociais, tornou-se uma febre no mundo inteiro, chegando com força até meados do séc. XX. Esta era bem uma tendência de uma ciência que se fundamentava em poderosos pilares, e o conhecimento registrado por ele, dada sua amplitude, serviu perfeitamente a este objetivo.

Em sua teoria evolutiva, Darwin se dedica muito mais a investigar as vantagens adaptativas do que a afirmar a prevalência do mais apto, sendo que a ideia de preponderância do “mais forte” é uma reformulação spenceriana de 1864, no livro Principles of Biology. Grosso modo, significa mais ou menos dizer que as espécies, no caminho evolutivo, perdem ou descartam características que as impedem de prosperar e sobreviver na natureza adversa em prol de outras que a capacitam melhor para tal “luta”. As vantagens adaptativas significariam aqueles potenciais biológicos que capacitam as espécies para a sobrevivência. No caso dos seres humanos, por certo a consciência e a razão dela decorrente são suas maiores vantagens adaptativas, embora seja preciso sempre considerar um mau uso eventual de tais capacidades.

Na disputa estabelecida entre cientistas e biógrafos do mundo inteiro, como se pode ver, a imagem de Darwin às vezes também pode ser encontrada em movimento. Através das janelas do seu estúdio em Down House, no condado de Kent, subúrbio de Londres, um hipocondríaco Darwin atormentado pela influência da consanguinidade na saúde da prole e que pouco era visto nas ruas de Londres chegou ao extremo de divulgar a sua principal obra por terceiros, no mesmo dia que enterrava o último de seus dez filhos, que pode ter nascido com o que hoje se conhece como a síndrome de Down.

Se vivesse hoje, seria Darwin um arrojado cientista entusiasta das modernas técnicas de rastreamento e edição genética? Ou ainda seria o mesmo homem aristocrático e antiquado que, em sua viagem ao Brasil, horrorizou-se com o tratamento dispensado aos escravos no Brasil Império? Ou o gênio científico que, naquele livro cheio de especulações arriscadas, A Descendência do homem e a seleção sexual, chegou a pensar que a grande vantagem adaptativa do homem pudesse ser, afinal, a nobreza da razão e a aplicação imediata do instinto de simpatia? 

Embora nunca as pessoas pareçam ter sido tão pragmáticas e intolerantes como atualmente, é sempre possível encontrar em suas ideias a faceta mais nitidamente humanista. Com um pouco de boa vontade (e boa bibliografia), é possível ver que mesmo Darwin pode ser questionado sem que a sua biografia precise ser maculada por transformações culturais que não dirigiu e parecia abominar. Ao ser lançado aqui, o livro de Janet Browne e Jeremy DeSilva merecerá ser lido como fonte de esclarecimento ao invés de um manual de cancelamento embora, a esse momento da história, garantir algo assim seja completamente imprevisível. Coisas da evolução. 

A música que não vibra

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Há algum tempo atrás li, em algum lugar, que o naturalista inglês Charles Darwin não gostava de música. Não é que não gostasse, é que sua mente aparentemente não apreciava o gozo estético da música. Parece que ele sentia o mesmo em relação à pintura. Não podia ou não sabia como julgar o valor estético de uma obra de arte, embora pudesse observar, compreender e descrever os fenômenos biológicos de uma maneira absoluta, razão pela qual figura sabidamente entre os grandes gênios científicos da humanidade. Um gênio irrefutável e, mesmo assim, aparentemente intocado pelo prazer da percepção musical. Consta que, a despeito disso, sua esposa Emma tenha sido excelente pianista, aluna de Frédéric Chopin e por este inclusive elogiada em razão de sua técnica. Imagino que Darwin tenha sido um amante paciencioso, pois através de algumas biografias também pode saber-se que ele não se furtava ao serões de Mrs Emma. Bem, as especulações param por aqui.

Outro pilar da modernidade, o austríaco Sigmund Freud, parecia sentir o mesmo sobre a primeira das artes. Em O Moisés de Michelangelo, ele diz: “com a música sou quase incapaz de obter qualquer prazer” para, em seguida, talvez explicar as razões disso acontecer (quem sabe explicando também o que acontece a Darwin): “Uma inclinação mental em mim, racionalista ou talvez analítica, revolta-se contra o fato de comover-me com uma coisa sem saber porque sou assim afetado e o que é que me afeta.”

Na minha vida, conheci pessoas com graus diferentes de sensibilidade musical. Desde prodígios infantis a pessoas praticamente indiferentes às composições sonoras, sem falar nas completamente ineptas aos instrumentos musicais. Não sei se terá a uns faltado o estímulo que chegou a outros, mas o fato é que talvez a sensibilidade musical tenha um fundo neurológico que se desenvolve de forma diferenciada nas pessoas. Ou então se desenvolva em algumas pessoas a assim chamada “amusia” que corresponderia, no campo da neurociência, à perda total das funções musicais pelo indivíduo. Através da neurociênica sabe-se também que, ao contrário de outras funções cerebrais, a musicalidade não está ligada a nenhum campo específico do cérebro, mas a muitos campos simultaneamente, o que dificulta ainda mais a compreensão sobre o assunto.

Há outros fenômenos sobre a musicalidade e o indivíduo que me chamam bastante a atenção também. Aquelas pessoas que, por exemplo, têm uma relação utilitarista com a música e usam-na como um tipo de terapia particular. Pessoas que gostam de gêneros musiciais seletivamente ou que são radicalmente refratárias a determinados estilos. Não são poucas as pessoas que se recusam a ouvir qualquer melodia mais lenta que classificam-na imediatamente como “música depressiva”. Conheci pessoas que apenas toleravam o estilo de “música ambiente”, que parece ser de um tipo que não lhes afeta o humor. E outros que apenas escutavam “músicas positivas”, com efeito motivacional ou grandiloquente. E ainda pessoas que vinculam a música exclusivamente ao gesto e prática da dança.

No livro Alucinações Musicais, o neurologista e escritor Oliver Sacks conta situações incríveis envolvendo a música e os seres humanos. A que mais me chamou a atenção foi a de que pacientes com Alzheimer, de um forma ainda desconhecida, mantêm preservada a memória musical e que inclusive o aprendizado de um instrumento, mesmo tardiamente, ajudaria a retardar o próprio desenvolvimento da moléstia. O uso terapêutico da música com animais e vegetais também parece ter algum tipo de efeito comprovado através de observações científicas. Vacas que ouvem Mozart produziriam mais leite na ordenha e alfaces tirariam mais proveito da fotossíntese se submetidas a “audições”. Coisas da natureza.

Lembro ainda hoje do quanto me espantei ao descobrir que mesmo um instrumento percussivo, como a bateria, possui uma escrita musical que pode ser transcrita em uma partitura. Mesmo que os instrumentos percussivos pareçam ter a única função de sustentação rítmica, produzem sonoridades diversas que operam em uma frequência vibratória escalonável, razão pela qual podem ser “escritos” conforme a linguagem musical. Provavelmente os instrumentos percussivos foram os primeiros criados pelo homem, embora os vestígios de rudimentares instrumentos de sopro tenham sido também encontrados em diversos sítios arqueológicos. Boa parte dos instrumentos modernos, com exceção dos elétricos, derivam de certa maneira da atividade percussiva, mesmo que de forma indireta, como no caso do piano, cujas cordas são acionadas mecanicamente.

De toda a maneira, a música é sempre o resultado da vibração das ondas sonoras e de sua harmonização (ou não, como querem os cacofônicos). Diferentes culturas têm características bem específicas em relação à composição musical e até mesmo sobre peculiaridades sonoras. Instrumentos exóticos como a cítara indiana e outros quase inconcebíveis são capazes de gerar sonoridades tonais fracionadas, os chamados semitons, que não podem sequer serem transcritos para escrita musical ocidental. Parece ser o mesmo tipo de frequência sonora que se encontra na música vocal tradicional de países do oriente médio, não por acaso hipnotizante.

Seja como fonte de enlevo, transe, euforia ou mero deleite, a música acompanha o homem desde eras remotas e é provável que acompanhe até o final de nossa experiência terrena. Diante de um predomínio tecnológico sem precedentes na história, é natural que ela cada vez mais receba daí um aporte relevante. Desde a década de 1960 isso vem acontecendo, na verdade. Que uns prefiram as guitarras e instrumentos eletrificados aos samplers digitais ou estes aos instrumentos acústicos mais tradicionais, tudo isso é bem compreensível. O difícil de compreender continua sendo a misteriosa conexão que a música faz com o pensamento e com a sensorialidade humana, chegando a anular-se em alguns casos e, em outros, gerando elaborações de extrema complexidade, como a capacidade de improvisação jazzística, por exemplo, sem entrar no mérito de Beethoven e outros compositores e instrumentisas acometidos pela surdez. De qualquer forma, mesmo que se trate de capacidade desenvolvida através da aprendizagem, sempre soará como um tipo de magia ou, como bem afirmou Schopennhauer, um tipo especial de exercício inconsciente da metafísica, “no qual o espírito não sabe que está a fazer filosofia”.