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3 canções de Sibylle Baier

Sibylle Baier (1945) é uma atriz e cantora folk alemã. Seu disco Colour Green, de 2006, reúne canções que ela gravou nos anos 70 e só veio a público por insistência do seu filho, tornando-se quase imediatamente objeto de culto.

Eu perdi algo nos montes

Nos últimos tempos
Eu sempre choro
Quando passo pelos montes

Oh, o que as imagens me trazem
Oh, eu espero tanto
Pelas raízes da floresta
A origem das minhas brutalidades

Eu perdi algo nos montes
Eu perdi algo..

Outros crescem nas cidades
Eu cresci nesses montes
Onde primeiro o amor e a alma surgem
Lá vão os tempos da minha vida
Quando me sentia doida, desvairada
E somente a campina me trazia esperança

Quando minha perna passar da grama alta, eu morrerei
Eu vou morrer sob o jasmineiro –
Sob a árvore mais velha –
Então eu não preciso estar preparada

Eu vou morrer sob o jasmineiro
E sob uma velha árvore
Eu não preciso me preparar para um novo dia
Onde vou preencher a profundidade do que sinto?

Você vai dizer que eu não sou o pisco da floresta
Mas como eu poderia não deixar sinais
De que perdi algo nos montes?

Eu perdi alguma coisa nos montes
Oh, eu perdi algo nas montes..

Agora eu me inclino no peitoril da janela
E eu choro, embora seja bobagem
E eu estou sonhando completamente..

Oh eu sei, mais a oeste existem estas montanhas
Marcadas por macieiras, sulcadas pela corredeira
Isso me leva aonde eu quiser

Bem, eu perdi algo nos montes
Eu perdi algo nos montes.
Oh, eu perdi algo..

I Lost Something in the Hills

Everytime I shed tears
In the last past years
When I pass through the hills

Oh, what images return
Oh, I yearn
For the roots of the woods
That origin of all my strong and strange moods

I lost something in the hills
I lost something in the hills

I grew up in declivities
Others grow up in cities
Where first love and soul takes rise

There were times in my life
When I felt mad and deprived
And only the slopes gave me hope

When I pass through the leg high grass, I shall die
Under the jasmine, I shall die
In the elder tree
I need not try to prepare for a new coming day
Where is it that fills the deepness I feel?

You will say I’m not Robin the Hood
But how could I hide from top to foot

That I lost something in the hills
I lost something in the hills
Oh, I lost something in the hills

Now I lean on my windowsill
And I cry, though it’s silly
And I’m dreaming of off and away

Oh, I know farther west, these hills exist
Marked by apple trees
Marked by a straight brook
That leads me wherever I want it to

Well I lost something in the hills
I lost something in the hills

Oh, I lost something in the hills


Esqueça isso

Você me fez esquecer
De ter, querer, exercer

Eu de repente me sinto orgulhosa
Por ficar sem dizer nada

Você me fez esquecer
Passado e dor

E o tempo você lavou
Como uma chuva repentina de verão

Você me fez bem,
Me fez tão bem
Que me fez esquecer

Você me fez esquecer
De ter, de querer, de exercer

E de repente eu descobri
Como é lindo o jeito que você veste sua camisa

Você me fez tão bem…
Você me fez esquecer

Forget about

You made me forget about
Have, want, exert
And all of a sudden, I feel proud
Of being, without saying a word

You made me forget about
Past and pain
Time, you washed out
Like a soft, sudden, summer rain

You do me good
You do me
So good, you made me forget about

You made me forget about
Have, want and exert
And all of a sudden, I found out
Oh, it’s beautiful, the way you wear your shirt
You do me good, you made me forget about


O fim

É o fim, amigo meu
É o fim

Foi-se o tempo quando poderíamos simplesmente dizer eu te amo
Agora você abriu a porta
E me deixou chorando
Tentando te abraçar de novo
Buscando enfrentar essa maldita situação, cara
Mas eu não posso
É o fim, amigo meu
É o fim

Querido amigo, eu não sei dizer porque começamos bem
Bons tempos, mas me dê um pouco de vinho quando abrir a porta
Você parece magoado, não tente falar nada
O que neste mundo poderia mesmo dar errado entre nós?
No entanto, é o fim, meu amigo
É o fim, doce amigo meu
Parece que acabou o tempo quando poderíamos simplesmente dizer eu te amo

Agora você abriu a porta
E eu sinto frio
Acordada, tenho você em meus braços
Eu disse que a vida é curta, mas o amor antigo
É o fim, amigo meu
É o fim, doce amigo

The end

It’s the end, friend of mine
It’s the end, friend of mine

time is over where we could simply say I love you
Now you opened the door
Leave me crying
Trying to embrace you again
Trying to face this damn situation man
I can’t
It’s the end, friend of mine
It’s the end, sweet friend of mine

dear friend, I cannot tell the reasons why we started well
Good time, give me some wine when you open the door
You seem hurt, don’t try to speak a word to me
What on earth could really go wrong with you and me?
Yet its the end, friend of mine
It’s the end, sweet friend of mine

time seems to be over where we could simply say I love you
Now you opened the door
I feel cold
Wakened, I hold you in my arms
Told you that life is short but love is old
It’s the end, friend of mine
It’s the end, sweet friend

5 canções de Nick Drake

Nicholas Rodney Drake (19 de junho de 1948 – 25 de novembro de 1974) foi um cantor e compositor inglês conhecido por suas canções baseadas em violão . Ele não encontrou um grande público durante sua vida, mas seu trabalho gradualmente alcançou maior notoriedade e reconhecimento. Drake estudou na Universidade de Cambridge e lançou seu primeiro álbum, Five Leaves Left , em 1969. Depois, gravou mais dois álbuns – Bryter Layter (1971) e Pink Moon (1972). Nenhum dos dois vendeu mais de 5.000 cópias no lançamento inicial. Não há imagens de vídeo conhecidas do Drake adulto; ele só foi capturado em fotos estáticas e em filmagens caseiras de sua infância. Drake tratava-se de deprssão, o que é refletido em suas letras. Após a conclusão de seu terceiro álbum, Pink Moon de 1972 , ele se retirou das apresentações ao vivo e das gravações, retirando-se para a casa de seus pais na zona rural de Warwickshire . Em 25 de novembro de 1974, Drake morreu de overdose de um antidepressivo prescrito, aos 26 anos. Se sua morte foi um acidente ou suicídio não foi resolvido (com informações da Wikipedia).

Um lugar para ficar

Quando eu era jovem, ainda mais do que agora
Nunca vi a verdade pendurada na porta
E agora estou mais velho, vejo isso em meu rosto
E agora preciso levantar, limpar este lugar

Eu era verde, mais verde que os montes
Onde as flores crescem e o sol ainda brilha
Agora estou mais escuro que o mar mais profundo
Então apenas me aceite, me dê um lugar para ficar

E eu era forte, forte como o sol
E pensei que o veria quando o dia acabasse
Agora estou mais fraco que o azul mais pálido
Oh, tão fraco nessa espera por você

A place to be

When I was young, younger than before
I never saw the truth hanging from the door
And now I’m older, see it face to face
And now I’m older, gotta get up, clean the place

And I was green, greener than the hill
Where flowers grow and the sun shone still
Now I’m darker than the deepest sea
Just hand me down, give me a place to be

And I was strong, strong in the sun
I thought I’d see when day was done
Now I’m weaker than the palest blue
Oh, so weak in this need for you


Roupas de areia

Quem te vestiu com estas roupas de areia?
Quem te levou para tão longe da minha terra?
Quem disse que minhas palavras estavam erradas?
E quem dirá que fiquei muito tempo?

Roupas de areia cobriram seu rosto
Mudaram você, tomando o meu lugar
Então vá em frente, siga até o mar
Algo levou você tão longe de mim.

Voltaram a valer a pena as cores do céu?
Para ver a terra, usa os olhos pintados?
Para olhar através das vidraças sombreadas?
Ver as manchas da grama no inverno?

Agora você pode voltar para o lugar que partiu?
Tente queimar o seu novo nome
Ou com colheres de prata e luz colorida
Você cultuará as luas, nas noites de inverno?

Roupas de areia cobriram seu rosto
Mudaram você, tomando o meu lugar
Então vá em frente, siga até o mar
Algo levou você tão longe de mim.

Clothes of sand

Who has dressed you in strange clothes of sand?
Who has taken you far from my land?
Who has said that my sayings were wrong?
And who will say that I stayed much too long?

Clothes of sand have covered your face
Given you meaning, taken my place
Some make your way on down to sea
Something has taken you so far from me

Does it now seem worth all the color of skies?
To see the earth through painted eyes
To look through panes of shaded glass
See the stains of winter’s grass

Can you now return to from where you came?
Try to burn your changing name
Or with silver spoons and colored light
Will you worship moons in winter’s night?

Clothes of sand have covered your face
Given you meaning taken my place
So make your way on down to the sea
Something has taken you so far from me


O cão de olhos negros

Um cão de olhos negros, ele chamou na minha porta
O cão de olhos negros, ele pediu por mais
Um cão de olhos negros, ele sabia meu nome
Um cão de olhos negros, ele sabia meu nome

Um cão de olhos negros

Eu estou ficando velho e quero ir pra casa
Eu estou ficando velho e não quero saber
Eu estou ficando velho e quero ir pra casa

Um cão de olhos negros chamou na minha porta
Um cão de olhos negros me pediu por mais

Black eyed dog

Black eyed dog he called at my door
The black eyed dog he called for more
A black eyed dog he knew my name
A black eyed dog he knew my name
A black eyed dog
A black eyed dog
I’m growing old and I wanna go home, I’m growing old and I dont wanna know
I’m growing old and I wanna go home
Black eyed dog he called at my door
The black eyed dog he called for more


Sábado de sol

O sol de sábado veio cedo nessa manhã
Num céu tão claro e azul
O sol de sábado veio sem avisar
Então ninguém sabia o que fazer
O sol de sábado trouxe pessoas e rostos
Que não pareciam em seus melhores dias
Mas quando me lembro daquelas pessoas e lugares
Eles eram realmente muito bons no que faziam
Do jeito deles
Hoje o sol de sábado não veio me ver

Pense em histórias com razão de ser
E rimas circulando em sua mente
E pense nas pessoas em seu próprio tempo
Voltando de novo e de novo
E de novo
E de novo
Mas o sol de sábado virou a chuva do domingo

Saturday Sun

Saturday sun came early one morning
In a sky so clear and blue
Saturday sun came without warning
So no-one knew what to do
Saturday sun brought people and faces
That didn’t seem much in their day
But when I remembered those people and places
They were really too good in their way
In their way
In their way
Saturday sun won’t come and see me today

Think about stories with reason and rhyme
Circling through your brain
And think about people in their season and time
Returning again and again
And again
And again
but Saturday sun has turned to Sunday’s rain


O homem do rio

Betty veio por sua conta
Disse que tinha algo para dizer
Sobre as coisas hoje
E as folhas no chão.

Disse que não soube das novidades,
Não teve tempo para escolher
Uma maneira de perder,
Mas ela acredita.

Eu vou ver o homem do rio
E lhe direi tudo o que posso
Sobre os planos
Para a primavera.

Se ele me disser tudo o que sabe
Sobre como o seu rio flui
E como toda a noite ele se mostra
Quando é verão.

Ela disse que hoje rezou
Para o céu soprar para longe
Ou talvez deixar –
Ela não tinha certeza.

E quando pensou na chuva de verão
Chamando por ela mais uma vez
A dor passou
E ficou um pouco mais.

Eu vou até o homem do rio
E contar a ele tudo o que posso
Sobre a proibição
De me sentir livre.

Se ele contar tudo o que sabe
Sobre o modo como o rio flui
Eu não irei supor
Ser para mim.

Oh, como eles vêm e vão.

Riverman

Betty came by on her way
Said she had a word to say
About things today
And fallen leaves.

Said she hadn’t heard the news
Hadn’t had the time to choose
A way to lose
But she believes.

Going to see the river man
Going to tell him all I can
About the plan
For lilac time.

If he tells me all he knows
About the way his river flows
And all night shows
In summertime.

Betty said she prayed today
For the sky to blow away
Or maybe stay
She wasn’t sure.

For when she thought of summer rain
Calling for her mind again
She lost the pain
And stayed for more.

Going to see the river man
Going to tell him all I can
About the ban
On feeling free.

If he tells me all he knows
About the way his river flows
I don’t suppose
It’s meant for me.

Oh, how they come and go
Oh, how they come and go.

The trapeze swinger (Sam Bean)

Sam Bean (1974), que também usa o nome artístico Iron & Wine, é cantor e compositor estadunidense de folk rock. Beam lançou seu primeiro álbum como Iron & Wine em 2002, intitulado “The Creek Drank the Cradle”, pela gravadora Sub Pop. “The trapeze swinger” está no álbum “Around the weel”, de 2009.

O trapezista

Por favor, lembre-se de mim
com alegria,
ainda próximo à roseira, rindo
e cheio de machucados no queixo.
Na época em que
contávamos, ainda acordados,
cada carro preto que passava
por sua casa, abaixo da colina,
até que alguém nos pegou na cozinha
com mapas, sob uma cadeia montanhosa,
um cofrinho de porco
e uma remota visão do futuro.

Mas, por favor, lembre-se de mim
carinhosamente…

Ouvi dizer que você continua linda
e que eles ficaram dizendo
que os portões perolados
tinham graffitis eloquentes
tipo “nós nos encontraremos de novo”
e “foda-se o homem”
e “diga para minha mãe não se preocupar”
e anjos com seus cumprimentos
cinzentos
feitos sempre com tanta pressa.

E, por favor, lembre-se de mim
no Halloween
fazendo todos os vizinhos de idiotas
com nossos rostos pintados de branco.

Pela meia-noite
nós esquecemos um ao outro
e quando a manhã chegou
eu estava morto de vergonha.

Somente agora parece tão bobo:
aquela época deixou este mundo
e depois retornou
e agora você está iluminada pela cidade.

Então, por favor, lembre-se de mim
de uma forma errada.
Na janela da mais alta torre
eles passam por nós,
mas alto demais
para ver a estrada vazia no happy hour.
Partem e ressoam
iguais aos portões
em torno do reino sagrado
com palavras como
“Achados e Perdidos”
e “Não olhe para baixo”
e “Alguém me salve da tentação”.

Por favor, lembre-se de mim
como no sonho,
éramos como bebês esfolados
entre as árvores caídas
e dormindo rápido
à parte os leões e as damas
que lhe chamaram como você prefere
e podem até mesmo
presenteá-la pelo seu comportamento
e uma chance efêmera de ver
um trapézio
balançar tão alto quanto
quem a socorreria.

Mas, por favor, lembre-se de mim
em minha tristeza
e como eu perdi tudo o que queria…

Aqueles cachorros que amam a chuva
a perseguir trens.

Os pássaros coloridos lá em cima correndo
em círculos em volta do poço
e onde ele descansa
na parede atrás do St. Peter
tão brilhante no cinza
com tinta spray
“Quem diabos pode sempre entender?”

E, por favor, lembre-se,
de vez em quando…
No carro atrás do carnaval,
com minha mão entre seus joelhos
e você virou para mim dizendo
“O espetáculo do trapezista foi maravilhoso”

O trapezista

Please, remember me happily
By the rosebush laughing
With bruises on my chin
The time when we counted every black car passing

Your house beneath the hill and up until
Someone caught us in the kitchen
With maps, a mountain range, a piggy bank
A vision too removed to mention

But please, remember me fondly
I heard from someone you’re still pretty
And then they went on to say that the pearly gates
Had some eloquent graffiti

Like “We’ll meet again” and “Fuck the man”
And “Tell my mother not to worry”
And angels with their gray handshakes
Were always done in such a hurry

And please, remember me at Halloween
Making fools of all the neighbors
Our faces painted white by midnight
We’d forgotten one another

And when the morning came, I was ashamed
Only now it seems so silly
That season left the world and then returned
But now you’re lit up by the city

So please, remember me mistakenly
In the window of the tallest tower call
Then pass us by but much too high
To see the empty road at happy hour

Gleam and resonate just like the gates
Around the holy kingdom
With words like “Lost and found” and “Don’t look down”
And “Someone save temptation”

And please, remember me as in the dream
We had as rug-burned babies
Among the fallen trees and fast asleep
Beside the lions and the ladies

That called you what you like and even might
Give a gift for your behavior
A fleeting chance to see a trapeze
Swinger high as any savior

But please, remember me, my misery
And how it lost me all I wanted
Those dogs that love the rain and chasing trains
The colored birds above their running

In circles ‘round the well and where it spells
On the wall behind St. Peter’s
So bright on cinder gray and spray paint
“Who the hell can see forever?”

And please, remember me seldomly
In the car behind the carnival
My hand between your knees, you turn from me
And said the trapeze act was wonderful

But never meant to last, the clowns that passed
Saw me just come up with anger
When it filled with circus dogs, the parking lot
Had an element of danger

So please, remember me, finally
And all my uphill clawing, my dear
But if I make the pearly gates
Do my best to make a drawing

Of God and Lucifer, a boy and girl
An angel kissing on a sinner
A monkey and a man, a marching band
All around the frightened trapeze swingers

Who knows where the time goes (Sandy Denny)

Alexandra Elene MacLean Denny (Sandy Denny, 1947 – 1978) foi uma cantora inglesa que foi vocalista da banda britânica de folk rock Fairport Convention. Gravou apenas quatro discos em nome próprio mas ainda é a rainha da folk-rock britânica.

Quem sabe aonde o tempo vai?

No céu noturno, todos os pássaros vão embora
Mas como eles sabem que é hora de partir?
Antes do fogo do inverno, ainda estarei sonhando
Mas eu nunca penso no tempo

E, afinal, quem sabe para onde vai o tempo?
Quem sabe onde o tempo vai?

A praia está triste e deserta, seus amigos incertos partiram
Ah, mas então você sabia que era hora de eles irem
Mas eu ainda estarei aqui, não penso em sair
Eu nunca nem conto o tempo

Pois quem sabe para onde vai o tempo?
Quem sabe onde o tempo vai?

Eu não estou sozinha enquanto o meu amor está próximo
Eu sei que vai ser assim até a hora de partir
Então vêm as tempestades de inverno
E depois os pássaros na primavera outra vez
Mas eu não tenho medo do tempo

Pois quem sabe como o meu amor cresce?
E quem sabe para onde vai o tempo?

Who Knows Where The Time Goes

Across the evening sky, all the birds are leaving
But how can they know it’s time for them to go?
Before the winter fire, I will still be dreaming
I have no thought of time

For who knows where the time goes?
Who knows where the time goes?

Sad, deserted shore, your fickle friends are leaving
Ah, but then you know it’s time for them to go
But I will still be here, I have no thought of leaving
I do not count the time

For who knows where the time goes?
Who knows where the time goes?

And I am not alone while my love is near me
I know it will be so until it’s time to go
So come the storms of winter and then the birds in spring again
I have no fear of time

For who knows how my love grows?
And who knows where the time goes?

In tall buildings (John Hartford)

John Cowan Hartford (1937–2001) foi um bandolinista, guitarrista acústico, violinista, banjoísta, dançarino, piloto de rebocador e barco fluvial a vapor, compositor e cantor folk e country americano conhecido por suas letras espirituosas, estilo vocal único e extenso conhecimento da tradição do rio Mississippi.

Num arranha-céu

Um dia desses, quando eu for um homem
E outros me ensinarem
Tudo o que eles puderem
Me venderão um terno
E cortarão meu cabelo
E me enviarão a trabalhar num arranha-céu

Isto significa dar adeus ao sol
E adeus ao orvalho
Adeus às flores
E adeus a você –
Eu estou indo para o metrô
Não devo me atrasar
E ir ao trabalho num destes arranha-céus

Mas quando eu me aposentar
E minha vida voltar a ser minha
E eu não dever mais nada a ninguém
Será hora de ir para casa
Eu me pergunto o que houve
Nem uma coisa e nem outra
Quando fui trabalhar nos arranha-céus

E é adeus ao sol
Adeus ao orvalho
Adeus às flores
E adeus a você
Eu estou indo para o metrô
Eu não devo me atrasar
Para estar no arranha-céu

In tall buildings

Someday, my baby, when I am a man
And others have taught me the best that they can
They’ll sell me a suit then cut off my hair
And send me to work in tall buildings

So it’s goodbye to the sunshine
Goodbye to the dew
Goodbye to the flowers
And goodbye to you
I’m off to the subway
I must not be late
I’m going to work in tall buildings

Oh when I retire
My life is my own
I made all the payments
It’s time to go home
And wonder what happened
Betwixt and between
When I went to work in tall buildings

So it’s goodbye to the sunshine
Goodbye to the dew
Goodbye to the flowers
And goodbye to you
I’m off to the subway
I must not be late
Going to work in tall buildings

So it’s goodbye to the sunshine
Goodbye to the dew
Goodbye to the flowers
And goodbye to you
I’m off to the subway
I must not be late
I’m going to work in tall buildings

Poesia de María Zambrano

María Zambrano Alarcón (1904 – 1991 ) foi uma intelectual, filósofa e ensaísta espanhola. Foi aluna de Ortega y Gasset e também de Xavier Zubiri e de Manuel García Morente. Sua extensa obra apenas foi reconhecida na Espanha no último período do século XX , após um longo exílio. Já idosa, recebeu os dois maiores prêmios literários concedidos na Espanha: o Prêmio Príncipe das Astúrias, em1981, e o Prêmio Cervantes, em 1988. No Brasil, tem uma única obra publicada, o livro Filosofia e Poesia, pela editora  Moinhos, em 2021. As traduções a seguir basearam-se na edição preparada por Javier Sánchez Menéndez para a Ediciones de la Isla de Siltolá, de Sevilha, em 2018.

QUE TUDO se pacifique como uma lamparina.
Como quando o mar sorri,
como o teu rosto, se de repente esqueces…
Esqueces porque eu já esqueci tudo. Não sei de nada.
Nada a teu respeito.
Nada sob tua sombra amarela, semente da árvore do esquecimento.
E tudo será como antes.
Quando nem tu e nem eu havíamos nascido.
Mas… Nascemos?… Talvez não, ainda não.
Nada, ainda nada. Nunca nada.
Somos o agora sem pensamentos.
Lábios sem suspiros, mar sem horizonte,
como uma lamparina que sobrevive ao esquecimento.

QUE TODO se apacigüe como una luz de aceite.
Como la mar si sonríe,
como tu rostro si de pronto olvidas.
Olvida porque yo he olvidado ya todo. Nada sé.
Cerca de ti nada sé.
Nada sé bajo tu sombra, amarilla simiente del árbol del olvido.
Y todo volverá a ser como antes.
Antes, cuando ni tú ni yo habíamos nacido.
Pero, ¿nacimos acaso?… O tal vez, no, todavía no.
Nada, todavía nada. Nunca nada.
Somos presente sin pensamientos.
Labios sin suspiros, mar sin horizontes, como una luz de aceite se ha extendido el olvido.


NEM BRISA nem sombra.
Por que, morte, te escondes assim?
Sai, salta, solta-te desse abismo!
Foge! Quem te segura?
Por que não apagas o universo com o teu olhar?
Por que não desfaz as pedras
com a tua sombra, com a tua morte, só com tua sombra,
com a mão vazia,
com teu rosto de estátua,
presença nua a quem nada resiste?
Ensina, mostra teu rosto para os mundos,
já não há mais espaço
sem céu, sem vento, sem palavras.
Eu só quero afundar no silêncio.

NI BRISA ni sombra.
¿Por qué, muerte, así te escondes?
Sal, salte, sácate de tu abismo, escápate tú, ¿quién te retiene?
¿Por qué no borras con tu mirada el universo?
¿Por qué no deshaces las piedras con tu sombra, muerte, sólo con tu sombra, con tu mano desnuda,
con tu rostro de estatua, desnuda presencia a quien nada resiste?
Enseña, muestra tu cara a los mundos, que ya no haya espacio,
ni cielos, ni viento, ni palabras.
Quiero hundirme en el silencio.


AO MEU ANJO

… Não há mistério,
apenas trabalho, tristeza,
e essa erva amarga.
Mas me conduzes
sem que eu te peça nada.
Sim, eu quero ser as tuas asas
despencadas, derramando
chuva de lágrimas por mim.
Porque tu me lamentas,
lamentas pelo meu ser,
porque sentes o meu amor contigo.
Sou tua feiura, a estranha
impotência a ti confiada.
Como eu te peso,
eu, a invisível,
sou tua pedra,
o óleo que unge tuas asas,
sou teu arrasto
e, nos instantes infinitos,
teu desespero.

Ó Anjo!
Serei eu teu inferno?
Eterno retorno
da tua leveza que aprisionei.
De uma forma obscura
eu me ponho a teus pés
para ser queimada, esfumada,
vítima necessária da tua liberdade.
Não me deixe existir,
é o que te peço.
Avalia bem,
sou tu, mas irredutível.
Até quando vai
a tua condenação?

A MI ÁNGEL

… Y no hay misterio
sólo trabajos, pesadumbre,
y esa amarga yerba.
Pero tú me conduces
y nada te pido.
Sí, quiero ser tus alas
caídas, ahora, llanto,
lluvia de lágrimas por mí.
Porque tú me lloras,
lloras mi no ser
porque me sientes amantísima a tu lado.
Soy tu fealdad, tu impotencia
extranjera a ti confiada.
Cómo te peso,
yo, la invisible,
soy tu piedra,
el aceite que unta tus alas,
tu rémora
y, en instantes infinitos,
tu desesperación.

¡Oh, Ángel!
¿Seré tu infierno?
Eterno retorno
de tu ligereza por mí aprisionada.
Como una oscura cosa
me ofrezco a tus pies
para ser quemada, ahumada,
víctima necesaria de tu libertad.
No me dejes existir, pues que te
peso.
Tú me mides,
soy tu irreductible,
¿hasta cuándo?,
tu condena.


FALA UMA PEDRA

Porque me olharam, porque fui levada, possuída, deixei de viver.
Enfeitiçada, sou apenas um apoio, mas nada me sustenta.
Sempre aqui,
súdita do espaço.
Onde está agora o olhar que me fascinara?
Precisavas de mim para ser tua sombra?
Possuidora, és tão frágil que só com mágica te estabeleces.
Tu, aquela que nasceu assustada, a inválida,
tu me amaste para então cair sobre mim.
O amor que indicas, me diz, é isso?
Eu era luz, reflexo, mas e tu? Diz,
não podias
revelar-te a mim?
Mas não; eu sou o teu ser, eu, teu suporte.
Eu, enterro do meu ânimo e prova do teu não-ser.
Agora, estás longe.
E andas, mendiga, em busca de comida.
Feitiços de alma, gestos do Senhor.
Novos amigos, ainda invisíveis, virão me procurar.
Não, eles cairão, cairão para que tu te ergas, levantes.
Tu virás me procurar, já sem me conhecer, sem saber.
Mas eu sei. Eu não sei de nada.
Eu sou a memória
acusadora, que nada trai, resistente, adversária.
Eu, peso de tua história.
Eu, também a tua calma.
O lugar maleável
e hostil que não se opõe a ti.
Tu poderás?
E também sou tua calúnia, a mentira já lançada, e não me temas.
Tu me nomeias: matéria.
Nada mais.
Mas tu voltas, alienada, cúmplice, derrotada.
Como és ignorante… a sábia.

HABLA UNA PIEDRA

Porque he sido mirada, porque fui tomada, poseída, cesé de vivir.
Hechizada, sólo soy un soporte, mas nada me sostiene.
Aquí, siempre
súbdita del espacio.
¿Adonde estás, ¡ah!, mirada que me fascinaste?
¿Me necesitabas para ser tu sombra?
Poseedora, tan frágil que necesitas hechizar para erigirte.
Tú, la que naciste asustada, la inválida,
me amaste para caerte en mí.
El amor que nombras, dime, ¿es eso?
Era yo luz, reflejo, ¿y tú? Di,
¿no podías
revelarme tu ser?
Pero no; yo soy tu ser, Yo, tu soporte.
Yo, sepultura de mi aliento y prueba de tu no-ser.
Estás ahora lejos.
Andas, pordiosera, en busca de alimentos.
Hechizas alma, gestos del Señor.
Nuevos compañeros, ya invisibles, vendrán a buscarme.
No, caerán, solamente esos caerán para que tú te erijas, te levantes.
Tú vendrás a buscarme, tú, ya sin conocerme, sin saber.
Pero yo sé. Yo sé nada.
Yo soy memoria
acusadora, delatora nada, resistente memoria, adversaria.
Yo, peso de tu historia.
Yo, también tu calma.
Yo, el lugar manejable[7]
y el hostil no que se te opone.
¿Podrás?
Soy también tu calumnia, tu mentira ya arrojada, y no me temas.
Me nombras: materia.
Nada más.
Pero vuelves, enajenada, cómplice, vencida.
Ignorante tú, la sabia.


ESTOU MUITO exausta para escrever, muito ocupada. Só podia mesmo fazer poesia, porque poesia é tudo e nela não é preciso dividir-se. Pensar divide a pessoa; de outro modo, o poeta é sempre um. Daí a angústia indescritível, e daí a força e a legitimidade da poesia.

ESTOY DEMASIADO rendida para escribir, demasiado poseída. Sólo podría hacer poesía, pues la poesía es todo y en ella uno no tiene que escindirse. El pensar escinde a la persona; mientras el poeta es siempre uno. De ahí la angustia indecible, y de ahí la fuerza y la legitimidad de la poesía.

3 canções de Karen Dalton

Karen Dalton (1937-1993) foi uma cantora e compositora norte-americana descendente de indígenas Cherokee e que chegou em Nova York, vinda de Oklahoma, para integrar o movimento de folk music do Greenwich Village. Gravou dois discos de estúdio, It’s So Hard to Tell Who’s Going to Love You the Best e In My Own Time, entre 1969 e 1971, e possui algumas gravações ao vivo. Em 2012, uma coleção de suas letras, poemas e escritos foi reunida em livro por Peter Walker. Em 2015, diversos artistas produziram um disco de suas músicas inéditas, intitulado Remembering mountais. Sobre sua vida, carreira e destino trágico, o cineasta Win Wenders produziu em 2020 o documentário Karen Dalton: In My Own Time. Neste ano, 2022, 12 novas gravações e imagens de Karen vieram a público com a edição do disco Shuckin’ Sugar.

Katie Cruel

Quando cheguei na cidade
Me chamavam “joia itinerante”
Agora eles mudaram de tom
Me chamam de Katie Cruel

Eu vou pela floresta
E através da lama pegadiça
Caminho sob a estrada
A fim de ouvir meu coração

Se eu estivesse onde queria
Então estaria onde não estou
Aqui estou porque preciso
Onde queria, não posso mais

Quando eu dei por aqui
Trouxeram bebidas sem fim
Agora mudaram de tom
Trazem as garrafas vazias

Se eu estivesse onde queria
Então estaria onde não estou
Aqui estou porque preciso
Onde queria, não posso mais

Katie Cruel

When I first came to town
They call me the roving jewel
Now they’ve change their tune
Call me Katie Cruel

Through the woods I go
And through the boggy mire
Straight way down the road
‘Til I come to my heart’s desire

If I was where I would be
Then I’d be where I am not
Here I am where I must be
Where I would be, I cannot

When I first came to town
They brought me drinks of plenty
Now they’ve changed their tune
And hand me the bottles empty

If I was where I would be
Then I’d be where I am not
Here I am where I must be
Where I would be, I cannot


Algo em mente

Ontem
De qualquer modo você o fez, está tudo bem
Eu vi você transformar seus dias em noites
Você não sabia
Você não pode fazer isso se não tentar
E algo está em sua mente, não é assim?

Um dia desses você vai ver que estava quebrando a cabeça
Deixando todos os seus sonhos para trás
Você não viu
Você não pode fazer isso se não tentar
E você tem algo em mente, não é?

Talvez num outro dia você vai querer sentir de outra maneira
Mas você não pode parar de chorar
E você não tem uma só coisa a dizer
E sente que quer fugir
Mas não adianta tentar, de qualquer jeito
Eu vi o que está escrito na parede
Quem não puder se manter sempre irá cair
Você não sabia?
Você não pode fazer isso se não tentar

E você tem algo mente, não é assim?
Você tem algo em mente, não tem?

Something on your mind

Yesterday, any way you made it was just fine
So you turned your days into night-time
Didn’t you know, you can’t make it without ever even trying?
And something’s on your mind, isn’t it?

Let these times show you that you’re breaking up the lines
Leaving all your dreams too far behind
Didn’t you see, you can’t make it without ever even trying?
And something’s on your mind

Maybe another day you’ll want to feel another way, you can’t stop crying
You haven’t got a thing to say, you feel you want to run away
There’s no use trying, anyway
I’ve seen the writing on the wall
Who cannot maintain will always fall
Well, you know, you can’t make it without ever even trying
Something’s on your mind, isn’t it?
Tell the truth now, isn’t it?

Something’s on your mind, isn’t it?
Something’s on your mind


Relembrando montanhas

O sol cairá no desfiladeiro
Eu rezo em cada pedra e árvore
Deixe a beleza no fim
E que tudo fique belo
E que tudo termine belo

Agora o tempo é seu, você estará sozinha
Em seu quarto, lembrando-se das montanhas
Você acha ainda que as estações mudam sem o seu coração?
Você está sonhando?
Todos os dias iremos até você, desiludindo-a
Você saberá que não há separação sem tristeza

Então você sentará perto da janela, vendo os dias passarem
Sozinha em seu quarto, lembrando montanhas
Você pensa em todos os caminhos que não seguiu?
Você está sonhando?
A cada lugar que vamos, você não sabe, mas amanhã
Eu acredito que amanhã você encontrará
O que a trará de volta

Remembering mountains

Sun will fall across the canyon wall
My prayer on every stone and tree
Let the last be beauty
All in beauty, all in beauty

Now your time is your own, you’ll be alone
And sit in your room remembering mountains
Do you think the seasons change without your heart?
Are you dreaming?
Every day and night we’ll come to your mind, undeceiving
You will know there’s no parting without sorrow

So you sit by the window, watching the days go
Alone in your room remembering mountains
Do you think of all the ways that you didn’t follow?
Are you dreaming?
Every way we lead, you are undefined, tomorrow
I’m believing you will find tomorrow
Brings you to return

Poesia de Hannah Arendt

Prometida para o ano de 2020, a edição brasileira dos poemas de Hannah Arendt ainda não aportou nas livrarias nacionais. Tampouco há notícia de que o lançamento esteja no prelo ou ao menos a caminho. O hiato não é bem uma novidade: entre os anúncios de publicação e o efetivamente publicado, sempre restam lacunas. Ao contrário de outros países, no Brasil a poesia de Hannah Arendt infelizmente parece ter caído nesse limbo editorial.

Com poemas escritos entre 1923 e 1961, sua produção é a de uma poeta bissexta que, todavia, praticou os versos ao longo de toda a sua vida. Na edição completa de sua poesia, têm sido considerados os 71 poemas publicados em 2015 na Alemanha sob o título Ich selbst, auch ich tanze, pela Piper Verlag.

As traduções mundo afora não demoraram. No mesmo ano de publicação, em 2015, a espanhola Herder Editorial publicou o trabalho de tradução organizado por Alberto Ciria, intitulado Poemas e que traz o posfácio da professora e estudiosa Irmela von der Lühe, da Universidade Livre de Berlim, também presente na edição alemã. Em 2020, em Portugal, publicou-se uma coleção limpa de seus poemas pela Sr Teste, traduzidos por José Aigner. Nos Estados Unidos, prepara-se a edição para o começo de 2023 do trabalho de tradução da pesquisadora e biógrafa de Arendt, Samantha Rose Hill. Em artigos e estudos, traduções de seus poemas apareceram ainda antes: na década de 1990 na França e em torno de 2013 no Brasil, em trabalho apresentado por Odílio Aguiar e Rosiane Mariano, da Universidade Federal do Rio Grande do Norte.

Amiga pessoal de muitos poetas, entre eles W. H. Auden, com quem se correspondeu e a quem dedicou um célebre ensaio na New Yorker, Arendt, contudo, nunca se identificou como poeta e toda a sua produção conhecida em livro é póstuma. Entre seus poetas preferidos, os nomes de Schiller, Heine, Goethe e o seu contemporâneo Bertold Brecht.

Estranharão os leitores, talvez, o encontro com uma poesia muito amorosa e com muitas referências aos amigos. As edições incluem um poema aqui traduzido, escrito por Arendt aos 17 anos, ou seja, uma produção bastante precoce. A segunda leva de seus poemas, coincidente com o período da Segunda Guerra Mundial, reflete mais o espírito da época. Nos últimos anos de vida, Arendt parece não ter mais escrito poesia.

Nota – 01/05/2023. Em abril de 2023, a editora Relicário publicou a primeira edição de Também eu danço, bilíngue, traduzida por Daniel Arelli.

[5] Müdigkeit

Dämmernder Abend –
Leise verklagend
Tönt noch der Vogel Ruf
Die ich erschuf.

Graue Wände
Fallen hernieder,
Meine Hände
Finden sich wieder.

Was ich geliebt
Kann ich nicht fassen,
Was mich umgibt
Kann ich nicht lassen.

Alles versinkt.
Dämmern steigt auf.
Nichts mich bezwingt –

Cansaço

Como um lamento silencioso
o crepúsculo soa ainda
a chamada dos pássaros
que eu criei.

Paredes cinzentas
desmoronam
enquanto minhas mãos
se reencontram.

O que vim a amar
não posso pegá-lo.
O que me rodeia
não o posso deixar.

Tudo se funde.
Paira o poente.
Nada me poderá submeter:
assim a vida segue seu curso.


[20] An die nacht

Neig Dich, Du Tröstende, leis meinem Herzen.
Schenke mir, Schweigende, Lindrung der Schmerzen.Deck Deine Schatten vor Alles zu Helle –
Gib mir Ermatten und Flucht vor der Grelle.

Lass mir Dein Schweigen, die kühlende Löse,
Lass mich im Dunkel verhüllen das Böse.
Wenn Helle mich peinigt mit neuen Gesichten;
Gib Du mir die Kraft zum steten Verrichten.

Para a noite

Tu que consolas, inclina-te muda sobre meu coração.
Tu que te aquietas, reserva alívio às minhas dores.
Cobre com tua sombra o que está claro demais
e me traz indiferença para que eu fuja ao estridor.

Deixa para mim teu silêncio, a tua libertação.
Deixa que se oculte o mal em meio à escuridão.
E quando a luz me atormentar com novos fantasmas
dá-me força para prosseguir meu desígnio.


[36] Ohne titel

Flüsse ohne Brücke
Häuser ohne Wand
Wenn der Zug durchquert es –
Alles unerkannt

Menschen ohne Schatten
Arme ohne Hand

Sem título

Rios sem pontes,
casas sem paredes:
não se reconhece nada
à passagem do trem.

Homens sem sombras,
braços sem mãos.


[55] Ohne titel

Helle scheint
in jeder Tiefe;
Laut ertönt
in jeder Stille.
Weckt das Stumme –
dass es schliefe! –,
hellt das Dunkel,
das uns schuf.

Licht bricht
alle Finsternisse,
Töne singen
jedes Schweigen.
Nur die Ruh’
im Ungewissen
dunkelt still
das letzte Zeigen.

Sem título

Não há profundidade
onde a clareza não brilha e
nem silêncio
onde o som não ressoa.

Desperta o silêncio –
mesmo que permaneça dormindo! – .
Ilumina a escuridão
que nos criou.

Não há trevas que a luz não vença
nem silêncio que não se entoe.

Mas essa calma
que repousa no incerto
silenciosamente nos obscurece
como um epílogo.

Canto fúnebre sem música

Edna St. Vincent Millay (1892-1950)
trad. do inglês

Não aceito que vão abaixo, à terra dura, os corações afáveis.
Eu sei que é assim, tem sido assim, desde sempre:
Vão-se de uma vez só sábios e amáveis. Coroados
Com louros e lírios, partem; mas não me peçam que aceite.

Amantes e pensadores, todos ao fundo da terra!
Unam-se ao indistinto, à poeira, ao pó.
Um trecho ou dois é o que resta
Do que sentiam, mas está perdido o melhor.

Os chistes, o olhar honesto, o riso, o amor,
Eles se foram. Para o alimento das rosas curvilíneas. Elegantes
São as flores. E perfumadas, eu sei. Mas não aprovo.
Mais preciosa era a luz em seus olhos do que todas as rosas do mundo.

E descem, descem, descem à escuridão da campa
E delicadamente vão. O belo, o bravo, os bons quase perfeitos.
Tranquilamente os engraçados e valorosos a morte encampa.
Eu sei. Mas eu não aprovo. Eu não aceito.

Ricardo Guiraldes (1886-1927)
trad. do espanhol

Eu já me perdi de mim mesmo.

Às vezes, tomo as lembranças entre as mãos, com carinho, e busco a infância distante, onde ficaram minha fé e minha força. Eu as vejo ainda lá, detrás de uma intransponível transparência no tempo mostrando com desprezo minha impropriedade de agora e mais admiro a chama tremeluzente de sua firmeza.

Perdi-me de mim mesmo quando mais fundo me busquei, como se a força de viver houvesse morrido.

Levo meus braços a frente e o que há é um sem fim. Como alcançar?

Espero.

Uma voz maior me dirá: Vem!

E, a partir daí, caminharei com tudo revelado, de joelhos, num campo de feridas, carregando na garganta o travo da vitória.

O fim dessa dor será antecipado pela foice dos meus passos, como uma saudação do trigo ante a segadora.

Perdi-me de mim mesmo e espero.

Senhor, eu tenho os braços estendidos…

O homem sofre a sua vergonha na minha carne.

As palavras hostis e as ofensas me parecem a verdadeira fortuna.

A culpa de cada um é de nós todos. Por que não sofrê-la? Preciso aprender:
a resistência à dor que tuas mãos me impõem;
serenidade intransponível ante a quem me ultraja.

E, melhor que julgar aos demais, limpar-me das próprias imundícies.

Se tenho ao alto as mãos, quanto mais baixo meu gesto aconteça, que ele então seja esquecido.

[Fé. In: Poemas místicos. 200 exemplares publicados por Adelina del Carril de Guiraldes. Buenos Aires, 1928.]