Laurel

Feliz, a primavera
sobrevive sem flores
de empréstimo.

E aqui se daria
o nascituro da tarde —
num indefinido meio-dia.

O pássaro (sem ventura)
trafega o espaço, mas
doutra estrutura.

Os olhos não alcançam
o que se ergue
como fortuita quimera.

Numa única paleta de cores,
o mesmo dia renasce
uma centena de vezes.

O azul não continua azul.
O céu migra de lugar.
A sombra não atenua.

Luz rosácea que restou,
do caule seco da flor
a folha comparece

e empresta os braços ao sol
como uma reserva disforme
da flor imerecida.

Já pensou, se ouvida,
o que ela diria? Nada..
Isso foi toda a vida.

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