Lá em Bagé, minha cidade natal, todos aprendem cedo que o lugar onde o Minuano sopra mais forte é na frente do Charrua.
O Charrua em questão é o hotel que por duas décadas foi o mais sofisticado da cidade, empreendimento do grupo Ypiranga que foi vendido em meados da década de 80 para um empresário local que grafou o seu próprio nome no hotel e retirou da fachada o cavaleiro indígena que o simbolizava e se podia ver à distância.
Já Minuano é o nome do vento que sopra de sudoeste, normalmente acompanhando as massas polares e é o vento mais frio que sopra em território brasileiro. Logo após a entrada de uma frente fria, o Minuano enregelante sopra forte sob as colunas do hotel, vindo de Aceguá, e há que ter força nas pernas para manter-se em pé ao cruzar por ali.
Fora essas duas menções, que eu me lembre, Bagé não guarda nenhuma referência histórica pública dos povos originários, nem um topônimo e nem nome de rua. Sequer o nome da cidade foi perdoado, assim como a memória de um certo curandeiro que teria por lá vivido à época dos primeiros acampamentos, e que até motivo de chacota se tornou na intelectualidade rio-grandense dos anos 50.
Ibajé teria sido o seu nome e, por essa razão, o nome da cidade guardava a grafia dos vocábulos indígenas, com a letra “J”. Ao longo do tempo, instituiu-se o Bagé com “G”, desfigurou-se a lenda e se chegou ao ponto de derivar o nome a um remoto vilarejo português, desvinculando-se de suas possíveis conotações indígenas.
Dos povos originários, a cidade vizinha do forte de Santa Tecla e da redução de Santo André dos Guenoas hoje não conta mais nem com a estampa na fachada do hotel. No município, vive hoje um assentamento kaingang que passa por muitas dificuldades, necessitando nesse inverno de alimentos, agasalhos e cobertores.

