Um amigo bem íntimo ontem perguntava se eu deixaria passar em branco o dia do escritor (25/07), se não diria nada sobre o assunto, se não me uniria aos tantos que se rejubilavam pelo título e comemoravam a data. Disse-lhe exatamente o que penso e pensei: que não é o meu caso. E que sempre tive claro, pelo menos para mim mesmo, que escrever é mais importante do que ser escritor e, portanto, todos os dias são de escrever, mesmo que isso por si só não me faça um escritor, mas apenas alguém que escreve…
O português Herberto Helder, que agora, postumamente, começa a ser mais publicado e conhecido no Brasil, disse numa de suas raras entrevistas que, para ele, o prestígio é uma poltrona, uma armadilha, e que o artista consciente saberá que êxito é prejuízo e que os autores que temem por desagradar a seus leitores embarcam antecipadamente no fracasso, ainda que tomados de louros e prêmios e de que a única confiança que um autor deve ter é com a possibilidade de frustrar a si mesmo e às expectativas de salão (como essas reentrâncias que há nas redes sociais também), ainda que delas viva o mundo editorial.
O custo de escrever e não viver numa dessas poltronas é o de contar com pouca divulgação. Mas sobre a vantagem de estar em pé, e em movimento, essa sim é que me importa. E essa, meus amigos, é inenarrável e indescritível.