Encurralados

As ondas não estão no mar.
Onde estão as ondas?

O mar, essa gigante
desembaraçadamente nua,

engoliu o que havia,
e agora como alcanço dormir?

Por isso, agarro-me ao nada,
uma insuficiente artimanha

de que sabem os náufragos
que morrem de frio.

O tempo se vai acabando.
Onde está o tempo?

Voltará amanhã, depois
de partirmos?

Ao espelho, essa neblina
que nos divide a alma

em duas, tu quebrarias?
Mas já pensaste…

Se do outro lado
tu mesma estivesses?

Na imagem que enxergas
não estou eu, não

está ninguém. O tempo
nos esquecerá a ambos

na mesma solidão
em que nos amamos.

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