Passos acima
o reino perfeito do amor
dorme um sono de séculos
de que não pode acordar.
Ao subir, desistira
de um regresso, e o retorno
impossível à cúpula
revela ainda mais dor.
Aqui, a indiferente natureza
prossegue frutificando
pasmos sempre novos
a novos olhos ferrugentos.
A relva na relva, o mar
no mar, tudo se recolhe
noite após noite
ante a noite replicada.
Cores copiosas do crepúsculo
vazam sua cor de clara de ovo.
A desafortunada visão
sequer percebe a si mesma.
*
Há uma mão pendurada
em silêncio que não alcança
nada a ninguém
em mais um gesto irrefletido.
Melhor que não visses
ao espelho quem foste,
quem viste, o que amaste
e o que dizes..
Mas uma centelha me pedes
desta rigorosa ambiguidade.
Eu digo: não sei.. Se digo,
é a intimação de um pedido..
Quando vais, me ausentas
do teu ser e estar
miraculoso. Como, sem tua
voz, me sustento?
Colocaste o pé sobre o meu.
Me acordaste. Do mais profundo
dos sonos, vieste. Se não sabes
quem és, não importa.. Vieste,
apenas. E então me causaste.