Por um momento só
o paraíso abre suas portas.
Lá dentro não há um deus,
mas um antílope
e ele tem a clavícula quebrada
e usa uma bengala torta
que guarda
num leito de relva e veludo.
Um deus que soubesse
seu nome o chamaria,
mas nem ele e nem eu
estamos interessados.
Há dor demais com que lidar
e os ossos internos a percutir
um parentesco remoto
entre nós (mas nós esquecemos
de tudo em solidão). E roemos
com as mãos as unhas dele,
do casco que nos engasga
e a pele de que nos cobrimos.
Furtivamente nos procuram,
mas sem identificar.
A porta aberta continua aberta.
Nós já não queremos sair.
Deixamo-nos confundir
pelo sol. E as árvores
nos derrubam como a folhas
soltas, perdidas, que voam.
Não estão mais aqui.
Não estamos.