Inventário

Publicar é um leilão da mente, escreveu Emily Dickinson. Sabe-se lá em qual de suas hesitações lhe surgiu a ideia, mas eu acho que ela tinha razão quanto a isso. Duvido muito dos poetas que não vacilam diante à possibilidade de multiplicar a sua criação e submetê-la à leitura dos demais. É uma situação no mínimo estranha porque, apesar de que a poesia prescinda da publicação para ganhar forma, é por meio dela que a obra pode ser avaliada, medida, esquadrinhada, aquilatada, amada ou, horror dos horrores, detestada..

Quando a ideia de reunir e antologizar meus poemas surgiu numa conversa com o Thomaz a fim de integrar a coleção “Poesia” da sua nascente TAN Editorial, não imaginava que, afinal, eu estava prestes a colocar o que havia escrito a um leilão para mim mesmo. Havia que arrematar de um conjunto relativamente extenso o que de mais valioso me parecia ou, melhor, deixasse de lado o que julgava de menos valor. Não fosse a ideia uma antologia, seria uma sugestão das mais terríveis: cortar na carne..

Esse exame dos três volumes que produzi de 2017 para cá, no entanto, me permitiu pesar com uma balança de precisão os exageros e descaminhos dos livros que havia feito de modo quase privado para resultar, finalmente, num volume como talvez devesse ter sido sempre. Um tanto grande, de fato, nas suas 414 páginas, mas do tamanho necessário para que não perdesse o seu “tutano” e, ao mesmo tempo, resultasse do desbaste de uma vida, a ver que compreende um período de 35 anos (1986 -2020) de atividade..

Brinco com o Thomaz que os seus livrões parecem obra póstuma e é verdade que juntei essa hesitação às anteriores, de voltar a mexer nesses poemas. Isso num ano em que eu desejava mesmo parar tudo e me dedicar a um novo trabalho. Com ardis mais de leitor que de editor, ele foi demovendo minhas ressalvas de um modo inacreditavelmente sábio: colocando-me a trabalhar..

E outra: se eu não soubesse que havia continuado a escrever, pensava que seria hora de parar. Uma injustiça terrível, já que parece que comecei ontem..

Felizmente, não se tratava disso. A verdade é que não tenho meios nem palavras para dizer da minha sorte em ter encontrado “este” editor. As mil vezes que revisamos tudo: ordem, margens e detalhes do volume já seriam impagáveis. Ao final, ficou claro que não se tratava de um trabalho de editor, mas de um amigo mesmo. E um amigo obcecado em qualidade. Só que ele tenha me proposto o livro (numa clássica inversão de papéis) já seria para mim razão de orgulho, mas conhecer de perto sua devoção à poesia apenas me fez esclarecer algumas intuições prévias. Antes de tudo um leitor respeitoso e atento e, ainda por cima, ao tempo em que editava e publicava a obra do seu próprio pai. Bah! Não sei o que mais se poderia pedir de um editor. Sorte a minha.

Em tempo: embora o livro ainda não se encontre à venda nas livrarias (na editora estará a partir de segunda-feira – https://taneditorial.com.br/), pode ser encomendado comigo, em privado. A partir da próxima semana, já tenho condições de remetê-lo aos interessados. Em breve digo aqui onde mais comprar o livro. Estamos vendo de fazer um lançamento “oficial”, porém não tenho porque trancá-lo aqui. É uma edição pequena e numerada. Vai com meu autógrafo e agradecimento sincero.

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