O radinho da Simone: espalhado Brasil adentro

Assim como há música que são como calçadas, espalhadas Brasil adentro, onde se encontra de tudo – e isso é uma benção de poucos lugares – há músicas que parecem que encontramos nas ruas, como um vizinho antigo, uma fachada intacta ou lugares que mudaram, aqueles que nos últimos tempos puderam mudar pra melhor.

Assim é o radinho da Simone, que encontrei quase sem querer pipocando de lá pra cá, nessa chapa quente que é a internet. A Simone de quem falo é a Simone Guimarães, a cantora que tem a voz do Brasil de dentro por dentro de si e que, quando bota isso pra fora, faz a gente sair procurando onde está o Brasil dentro de nós. E ela nos diz (sem mesmo saber) que ele está onde esteve sempre esteve, lá, ali, aqui, um pouco aos nossos pés, um pouco oculto e inacessível, mas ainda assim inteiramente nosso.

No radinho da Simone há coisas gravadas há bastante tempo, desde os tempos miraculosos de Piracema até os trabalhos mais recentes, não menos miraculosos, de Casa de Oceano ou Flor de Pão, registrados pela Biscoito Fino. Há também coisas pra descobrir: letras antigas de um Cacaso, canções plantadas no leito de um rio, na borda de uma janela em flor ou noutras jóias e pepitas desse pequeno grande tesouro esperando ser descoberto…

Sempre resta uma dúvida ao escutar a Simone: é preciso decidir rapidamente se as suas escolhas foram feitas pensando em sua voz ou se sua voz é que foi forjada por suas escolhas. Como a resposta não está escrita em lugar nenhum, o jeito é botar o radinho pra tocar mais uma vez. E tentar decidir jamais.
Com licença, por obséquio, que eu preciso ouvir esse radinho aqui um pouco mais.

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